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Fazendo a Foto: Técnicas e Processo Criativo

Atualizado: 29 de jan. de 2021


fotografia de paisagem urbana, ponte do Brooklyn e prédios de Manhattan, lado do carrossel
Brooklyn Bridge & Manhattan skyline

Introdução

Alguma vez você viu uma foto e ficou curioso sobre como ela foi feita? Diversas vezes eu tive essa curiosidade; e ainda tenho quando vejo certas fotos. Qual equipamento foi usado? Qual técnica foi empregada? O que levou o fotógrafo a optar por tal composição?


Pensando nisso, decidi criar uma série de artigos na qual eu conto em detalhes o processo criativo por trás da produção das minhas fotos, indo desde a mentalização da foto, passando pela técnica de captura, até a edição. Cada novo artigo da série trará uma foto diferente, e eu compartilharei com vocês a minha linha de raciocínio para a concretização da foto.


A primeira foto a ter sua história contada será esta, feita em Nova Iorque, no Parque do Brooklyn, numa linda noite de primavera.

Imaginação

Uma boa fotografia deve existir primeiro na sua cabeça, para depois ser criada em sua câmera. É preciso primeiro imaginar como seria essa foto que você deseja fazer. Ao definir o que deseja, você terá elementos para pensar em como alcançar esse objetivo, ou seja, como concretizar aquela foto que você criou em sua mente.


A imagem acima nasceu de um desejo de fazer uma bela fotografia da skyline de Manhattan (Skyline é a linha do horizonte formada pelo topo dos prédios). Para isso, eu sabia que a foto teria que: 1) ser noturna; 2) mostrar os edifícios; 3) incluir o rio Hudson. Essa era a ideia original, mas enquanto eu a executava, decidi também incluir a ponte do Brooklyn. Só depois que eu estabeleci o que eu queria é que eu comecei a pensar em composição, exposição e configurações de equipamento.

Composição

Assim que cheguei ao Brooklyn Park, procurei um bom local para montar o tripé. Após isso, fiz o enquadramento de modo a incluir os elementos da minha ideia original: edifícios, ponte e rio. O resultado foi a foto abaixo.


fotografia de paisagem urbana, ponte do Brooklyn e prédios de Manhattan, lado do parque
Nikon D7100 + Nikkor 16-85mm f/3.5-5.6G @ 16mm, ISO 100, 15 segundos, f/5.6

A princípio pareceu muito boa, mas depois eu achei que a composição estava um pouco fraca, sem nenhum elemento de primeiro plano ou linhas guia, por exemplo. Linha guia é qualquer objeto com forma de linha, ou uma sequência de objetos que passa a impressão de uma linha, que ajuda a guiar os olhos para dentro da foto e/ou para o assunto principal. Já um elemento de primeiro plano é algo importante em fotografia de paisagem, pois ajuda a preencher o vazio do primeiro plano que ocorre em muitas situações, assim como ajuda a conectar os elementos da foto, criando uma tridimensionalidade onde o olho passa pelo primeiro plano (foreground), depois pelo plano do meio (middleground), até chegar ao plano de fundo (background).


fotografia de paisagem urbana, ponte do Brooklyn e prédios de Manhattan, lado do parque
Nikon D7100 + Nikkor 16-85mm f/3.5-5.6G @ 16mm, ISO 100, 15 segundos, f/5.6

Tendo isso em mente, experimentei adicionar o parapeito do parque que fica às margens do rio Hudson como linha guia, obtendo como resultado a foto acima. Apesar de ter resolvido parcialmente o problema de composição, eu acabei gerando outro problema, pois dessa forma eu acabava perdendo a visão dos arranha-ceús, que faziam parte da minha ideia para a foto. Além disso, esse ângulo introduzia a Ponte Manhattan (ao fundo), o que gerava uma distração. Tentei me aproximar da Ponte do Brooklyn e virar a câmera um pouco para a esquerda, com a intenção de remover a Ponte Manhattan e incluir os arranha-céus, mas sem sucesso. Foi então que decidi passar para o outro lado da ponte em busca de um ângulo melhor que me proporcionasse a composição que eu queria.


fotografia de paisagem urbana, ponte do Brooklyn e prédios de Manhattan, lado do carrossel
Nikon D7100 + Nikkor 16-85mm f/3.5-5.6G @ 16mm, ISO 100, 13 segundos, f/5.6

Minha composição final, então, consiste do passeio às margens do rio que, além de servir para dar contexto e adicionar informação sobre o local, traz as linhas guias que eu estava procurando. Essas linhas guiam até um poste que, sendo também uma linha, leva o olhar até a ponte na esquerda e acima, de onde seu olhar vai passando pela ponte para, em seguida, chegar no plano de fundo: os edifícios. De lá, seu olhar volta e vai de novo, podendo parar na torre da ponte, onde se encontra a maior concentração de suas luzes e onde também se encontra o edifício de maior brilho na imagem: o novo World Trade Center.

Ao contrário de um pintor que, a partir de uma tela em branco, cria uma cena, um fotógrafo deve partir de um mundo cheio de informações e distrações, tendo como desafio ordenar o caos, ou eliminá-lo, deixando no quadro apenas o que interessa para passar a mensagem da foto idealizada. Sendo assim, me esforcei para mostrar ao máximo a linda vista à minha frente sem que outros elementos sem importância entrassem no quadro. E posso dizer que não foi fácil, pois nesta ocasião, havia muitas pessoas frequentando esse parque, um carrossel atrás de mim e uma equipe de filmagem do meu lado direito, a um metro de distância do limite do quadro.

Distância Hiperfocal

Distância hiperfocal é a distância de foco que dá à sua foto a maior profundidade de campo possível. Imagine uma paisagem que você quer que esteja totalmente em foco (da frente ao fundo). Se você focar mais na frente, o fundo ficará borrado. Se você focar no fundo, será a frente que ficará borrada. A solução é focar num local específico entre o primeiro plano e o plano de fundo, o que faz com que tanto os elementos da frente quanto os de fundo estejam em foco. Esse ponto específico, esse local intermediário, é chamado de distância hiperfocal.


Eu sempre utilizo a técnica da distância hiperfocal para a captura das minhas fotos, e com a foto em questão não poderia ser diferente. Como vocês podem ver na imagem comparativa abaixo, tanto o primeiro plano (imagem à esquerda) quanto o plano de fundo (imagem à direita) estão em foco.



Alguém pode perguntar: "por que eu usaria essa técnica se eu posso deixar tudo em foco facilmente usando aberturas como f/16 ou f/22"? Porque o uso de tais aberturas não é aconselhável se você quer uma foto nítida. Não confunda foco com nitidez. Você pode ter a paisagem toda em foco mas ter perdido nitidez devido à difração, um fenômeno óptico que ocorre ao usar aberturas muito pequenas.

Ponto mais nítido da lente

E por falar em nitidez, em conjunto com a distância hiperfocal eu sempre uso o ponto mais nítido da minha lente, o que em inglês chamam de sweet spot.


Alguns afirmam que o ponto mais nítido costuma ser aquele de dois a três números acima da abertura máxima, mas essa informação está errada, pois trata-se de uma generalização. Cada lente vai apresentar um sweet spot diferente. Por exemplo, eu tenho uma 35mm f/1.8 cuja abertura mais nítida na minha câmera é f/9. Minha zoom 16-85mm f/3.5-5.6 apresenta mais nitidez em 16mm + f/5.6 e entre 24 e 40mm + f/8. Como disse, nem toda lente se comporta da mesma forma. Além disso, a nitidez (capacidade de resolução) de uma lente vai depender também do sensor de sua câmera.


Após conhecer quais são as aberturas que me dão maior nitidez em cada comprimento focal do meu equipamento, eu passei a buscar apenas os pontos mais nítidos das minhas lentes.

Mirror Up

A função Mirror Up (em português: espelho para cima) serve para evitar pequeníssimas vibrações decorrentes do espelho no momento em que ele sobe, antes de abrir a primeira cortina do obturador para o início da exposição. Essas vibrações causam borrão na imagem, diminuindo a nitidez. Quanto maior a resolução da câmera, mais fácil é introduzir e perceber esse borrão nas fotos. Além disso, como eu estava fazendo uma longa exposição, eu não podia apertar o botão disparo da câmera, senão a vibração introduzida seria decorrente da minha mão. Sendo assim, na foto em questão eu decidi usar meu controle remoto junto com a função Mirror Up.


Funciona assim: eu aperto o botão no controle remoto e o espelho sobe; eu espero alguns segundos para que qualquer vibração causada pelo espelho desapareça, e depois aperto o botão no controle remoto uma segunda vez para iniciar a exposição. Em exposições mais curtas (1/250, 1/500, etc.) isso não é necessário, mas em longas exposições é super importante que se faça isso, principalmente com câmeras como a D7100 que tem 24 MP e não possuem OLPF - Optical Low Pass Filter (Filtro Óptico de Passagem Baixa). OLPF é um filtro que é colocado na frente do sensor para borrar sutilmente a imagem com a intenção de evitar um efeito colateral chamado moiré. Câmeras sem OLPF oferecem uma nitidez um pouco maior, mas podem sofrer de moiré de vez em quando em algumas partes da imagem.


Se sua câmera possui a função Mirror Up, mas você não possui um controle remoto, não tem problema, use a função timer. Programe o timer para 5 segundos ou mais. Assim você haverá tempo o suficiente que desapareça qualquer vibração causada por suas mãos.

Redução de ruído de longa exposição

Minha câmera está configurada para aplicar redução de ruído por longa exposição. Ruído por longa exposição é aquele causado pelo aquecimento do sensor durante exposições muito longas, e aparece na imagem como pixels brancos ou vermelhos. Não vou entrar em detalhes sobre como esse recurso funciona, mas tenho que dizer o seguinte: Se sua exposição foi de 5 segundos (por exemplo), o processo de redução de ruído durará 5 segundos, totalizando 10 segundos para o processo todo (captura + redução de ruído). No fim das contas, você espera o dobro do tempo, mas vale a pena.

Pós-produção

Pós-produção é o processo no qual o fotógrafo utiliza determinado software, ou sala escura, para alterar e/ou aperfeiçoar diversos atributos de uma fotografia visando à transmissão de uma mensagem ou ideia. A etapa de edição da foto é a continuação natural do processo criativo, que começa com a imaginação. Se você fotografa em RAW, o processo de edição se torna ainda mais importante, pois o arquivo RAW não conta com nenhum tipo de ajuste, precisando de sua interpretação para ganhar vida.



Algumas fotos costumam dar bastante trabalho na edição, necessitando de ajustes localizados, filtros e um controle bastante avançado da luminosidade e cores. Entretanto, essa fotografia se mostrou bem fácil de se trabalhar, pedindo apenas ajustes básicos. Precisei apenas ajustar o balanço de branco, controlar as altas luzes, aplicar uma curva de tons para aumentar o contraste, clarear um pouco as sombras, acentuar as cores, corrigir a distorção de perspectiva, aplicar nitidez e adicionar um pouco do deslizante texturas para ajudar com a sensação de nitidez. Parece muita coisa, mas é apenas o básico. Algumas fotos precisam de muito mais para ficarem prontas. Mas, claro, precisar ou não de muitos ajustes é algo que vai depender se a pessoa é perfeccionista ou não.


Antes e Depois

Conclusão

Como vocês puderam ver, muita coisa esteve envolvida no processo de criação dessa fotografia, desde a imagem mental inicial até o último ajuste aplicado no Lightroom. Isso serve de reflexão para que a gente aprenda que uma boa foto não está lá no mundo, pronta para ser "tirada". Uma boa foto precisa ser feita, trabalho no qual se investe muito raciocínio, esforço e inspiração.


Essa é apenas a primeira de várias outras imagens que terão sua história contada nesta série de artigos chamada "Fazendo a Foto". Mal posso esperar pelo nosso próximo encontro. Um grande abraço e até mais.

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